sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cinema: Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love, 2011)


Comédia romântica para homens. Um grandioso elenco fortalecendo o gênero e provando que clichês bem usados podem resultar grandes obras.

por Fernando Labanca

Da dupla de diretores Glenn Ficarra e John Requa que ano retrasado lançaram o mediano, mas ainda assim bastante original, "I Love You Phillip Morris" com Jim Carrey, estreiam essa comédia romântica com pitadas de drama e com um resultado bastante superior a obra anterior. Não, não é mais um no gênero, apesar dos clichês foge do padrão, dessa vez o foco são os homens e não há uma só história a ser contada, na tela, aparecem diversas situações, ora cômicas, ora dramáticas, que nos mostra de forma eficiente os obstáculos a serem enfrentados quando se ama alguém.

Em uma mesa de um restaurante, Cal (Steve Carell) pergunta a sua esposa, Emily (Julianne Moore) o que ela gostaria, é então que a verdade surge, ela queria o divórcio. Assim, simples, rápido, a vida deste pacato homem se desmorona. Depois de anos de casados, Emily já não sentia aquela forte paixão do início do relacionamento, para piorar, transou com um colega de trabalho, o bonitão David Lindhagen (Kevin Bacon). Perdido, desolado, ele sai de casa e passa as noites reclamando de seu pobre destino num balcão de um bar, é onde conhece Jacob (Ryan Gosling). Jacob, por sua vez, frequenta o mesmo bar para por em prática todo seu dom de sedução e conquistar de forma barata as mais belas mulheres, até que se depara com um "não" certa noite, vindo de uma jovem extremamente interessante, Hannah (Emma Stone), mas isso foi só um porém, não muito tempo depois se depara com aquilo que tomaria seu tempo, salvar a vida de um cara, desolado no balcão do bar, havia algo naquele solitário indivíduo que precisava de uma solução.

Jacob passa a ensinar Cal a se comportar como um "homem de verdade", que sabe conquistar, muda suas roupas e seu corte de cabelo, mas mesmo se dando bem com a mulherada, Cal percebe que a felicidade só poderia ser encontrada com sua esposa, aquela que ele realmente amava. Enquanto isso, seu filho, Robbie (Jonah Bobo) passa por uma triste desilusão amorosa, logo que sente uma atração muito forte por sua babá, alguns anos mais velha que ele, a bela Jessica (Analeigh Tipton), que por sua vez, sente uma forte atração pelo pai dele, Cal. Ainda há Hannah que mesmo bem sucedida em sua promissora carreira de advogada, percebe que sua vida amorosa não passa por uma boa fase, logo que esperou durante muito tempo ganhar um pedido de noivado de seu namorado, decide então, partir para outra, encarar um novo desafio, ou seja, dar uma chance aquele cara do bar que recebeu seu não.


Eu diria que foram, mais precisamente, 118 minutos muito bem preenchidos, história assinada por Dan Fogelman, mais conhecido por escrever roteiros para animações, como os ótimos "Bolt", "Enrolados" e "Carros", aqui ele escreve de forma bastante inteligente e direta todas essas histórias, de desilusões e confusões amorosas, onde cada trama é bem respeitada e tem seu merecido espaço, nenhuma acaba com o brilho da outra, e todas são bem desenvolvidas e muito bem concluídas. A direção de Glenn Ficarra e John Requa evolui desde "I Love You Phillip Morris", é bem feito, o trabalho com os atores foi fantástico, há um ótimo ritmo em todas as histórias, sabe divertir, emocionar e encantar de forma eficiente.

Os clichês aqui aparecem em muitas passagens, há discursos que muitas vezes parecem ter sido tirados de outros filmes, por vezes, nem respeitando a personalidade de cada personagem. Entretanto, são tão bem encaixados no roteiro, tem fundamento, faz parte daquele contexto, nada surge de forma forçada, diria até, que tudo é muito adorável. Em certo momento, numa discussão com sua esposa, onde as coisas ficam mais claras para o casal, o personagem de Steve Carell declara "Que clihê", isso porque a cena ocorria debaixo de chuva, e vamos ser sinceros...que clichê! Por outro lado, é genial o fato do próprio filme brincar com isso, ele mesmo se admite clichê, logo, uma das sequências mais fantásticas do filme. E pela obra admitir isso, tudo o que surge na tela, parece ter sido desculpada, parece fazer parte de uma brincadeira, na verdade, aceitamos o piegas em "Amor a Toda Prova" e o pior, torcemos por eles. Enfim, há inúmeras sequências incríveis, confesso que quero muito ver de novo e me deparar com todas elas novamente.

O elenco é soberbo. Steve Carell é incrível, sou fã de "The Office" e tudo o que este grande ator faz, sabe fazer comédia como poucos e ainda se arrisca no drama e sempre funciona. Julianne Moore é uma daquelas atrizes que já não precisam provar mais nada, já contribuiu demais para o cinema e já provou inúmeras vezes seu talento, aqui ela faz o mesmo de sempre, mas é Julianne Moore, mesmo quando ela faz o "mesmo de sempre", ela arregaça. Ryan Gosling tem trilhado um caminho interessante em Hollywood, há anos atua, mas ainda não teve seu merecido espaço, espero que vejam seu talento, é um bom ator e aqui ele diverte em cena e convense com seu Jacob. Entretanto a maior graça de "Crazy, Stupid Love" é sem sombra de dúvida Emma Stone, é sempre bom vê-la em cena, seu carisma enche a tela, faz ótimas sequências, é bastante expressiva e faz o filme valer a pena. Marisa Tomei aparece como uma estérica, o que é ótimo, porque ela faz estéricas como ninguém e sua participação diverte bastante. Ainda temos os veteranos Kevin Bacon e John Carroll Lynch, bons. Outro destaque são para os mais novos, Jonah Bobo e Analeigh Tipton, que mesmo iniciantes, convensem e muito com seus respectivos personagens.

Uma comédia romântica como poucas. Assistindo ao filme eu via inúmeros elementos que me fizeram ter a certeza de que eu estava diante de algo brilhante. Jacob é aquele conquistador incorrigível, se acha o maioral, ao mesmo tempo que mostra ter alguns segredos, a trama nos prende a ele, queremos descobrir quem realmente é este homem, analisar toda sua mudança durante o filme é algo interessante também, enfim, não darei spoilers, mas há uma ligação maior entre ele e Cal. A relação de Cal e Emily até que emociona, é bem simples, mas os pequenos diálogos nos mostra a fragilidade do casal e torcemos por eles. Jessica, a babá, passa por aquela fase onde a ingenuidade é perdida, o roteiro trabalha brilhantemente em sua pequena trajetória, onde a complexidade de sua personalidade é mostrada de forma sutil e cômica, dando brilho ao longa. E ainda o pequeno Robbie, que tem a coragem de fazer loucuras por amor, por não ter o medo e falta de coragem dos adultos. O Amor em diferentes idades, diferentes tempos, diferentes pontos de vista, e todas essas tramas se fundem de forma, digamos, até que surpreendente, não há como esperar as surpresas que a obra reserva para os minutos finais. É piegas, é clichê, mas é muito bom também, vale cada segundo. O fato de ter seus pequenos defeitos não desfaz o fato de ser um filme inteligente, e mesmo quando parte para o absurdo, politicamente incorreto, sabe ser maduro. Uma obra de qualidade, como poucas, que convense tanto no drama quanto na comédia, emociona tanto quanto diverte, sabe ser complexo, maduro e inteligente e mesmo assim entreter os menos exigentes. Recomendo.

NOTA: 8,5


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